Mc1,12-15
"Água e deserto, aliança e tentação, opostos
incontornáveis
do caminho que nos propõe a Páscoa como meta.
Tensão criadora a agitar a cinza dos dias e a fragilidade
da terra,
espaço sem limites das escolhas que nos realizam.
Água do nascer e do renascer que nos definem,
entre o “já” e o “ainda não” de grandeza e miséria,
“todos os dias são nossos”, como dizia o poeta,
mas é também nossa a coragem de espalhar a aurora
e levantar rostos cansados e abatidos.
Deserto do apelo ao essencial que é sempre tão pouco,
(um sorriso, um abraço, “um sair de mim e ser amor
contigo”),
lugar onde a conversão vai além da penitência,
a alegria de dar é mergulhar na realidade de alguém,
os gestos ecoam a mudança que acontece no silêncio.
Água para a travessia do deserto,
e terra seca que pode reaprender a lição do barro,
este é o tempo de confiar nas mãos de Quem faz aliança
connosco
e as oferece cada dia para revelar
o que é belo e teimamos em esconder,
o que é verdade e teimamos em desprezar,
o que é bom e teimamos em esquecer.
Jorram os rios de água viva dos nossos corações
a empapar os desertos, que podem ser os prédios e as
ruas,
e as casas, e os trabalhos, e as compras, e até os
divertimentos,
onde tantas solidões se acumulam?
Bebemos e mergulhamos nesta água que é Cristo,
e, como a samaritana, ensinamos o caminho da fonte?
Guardamos cisternas ou ajudamos os desertos a
descobrir a Fonte que neles está?"*
Desejo-vos um bom domingo e uma santa Quaresma.
O meu abraço na paz de Cristo.
Ailime
*Autor: Pe. Vítor Gonçalves
In Agência Ecclesia