Minhas amigas de caminhada, aqui estou a responder à chamada, quase a escorregar dos chinelos, mas com determinação para poder merecer o selo que é muito engraçado e alegre.
Não posso deixar de saudar a nossa amiga Gisele e dizer-lhe e a todos os outros amigos do outro lado do Atlântico, que não me esqueço de orar por todas vós deixando aqui um beijinho muito especial para todos, pedindo ao Senhor ânimo e força para enfrentarem este momento doloroso por que estão a passar no vosso maravilhoso país irmão.
Então vou começar:
7 - Brinquedos que não tive:
1 - Peluches, embora me orgulhe muito de uma fotografia ao colo dos meus pais agarrada a um pequeno elefante emprestado pelo fotógrafo – tinha 10 meses;
2 – Bonecas. A primeira e única que tive era de papelão. Só durou algumas horas, porque para meu espanto dei-lhe banho e a marota desfez-se. Tinha uns cinco anitos e fiquei pasmada a olhar para aquela pasta de papel sem perceber bem o que tinha acontecido…
3 – Livros de contos e histórias de fadas….eu acreditava que existiam…e na varinha também! Apesar de tudo li muitos, muitos, porque a minha aldeia era visitada por uma Biblioteca Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian….e era uma maravilha ir buscar livros quinzenalmente.
4 – Um diário. Era um dos meus sonhos. Mais tarde para além de livros era um dos presentes que mais gostava de oferecer.
5 – Jogos didácticos (tipo Majora). Mais tarde “brinquei” muito com uma criança que morava no prédio onde habitava com a minha família e que fugia para a nossa casa e me pedia para jogar com ela.
6 – Lápis de cera. Soube da sua existência por uma amiguinha que vivia em África e quando veio de férias ao Continente trouxe uma caixa enorme que partilhou connosco. E como aqueles lápis deslizavam tão bem…
7 - Um estojo grande onde pudesse guardar todo o material escolar.
7 - Lembranças vergonhosas de infância:
1 – Num dia 8 de Dezembro (Dia da Imaculada Conceição) em que se comemorava o Dia da Mãe, numa festa organizada pela Escola Primária e pela Igreja, coube-me dizer uma poesia dedicada a Nossa Senhora. O palco era uma mesa rectangular e a sala estava cheia. Mal subi ao improvisado palco, só me recordo de ver muitas cabeças em baixo (penso que me assustei) e mal comecei a balbuciar “Senhora da Conceição, não tens povo mais amigo”, desatei num pranto enorme… e já tinha 10 anos…Eu não disse Dulce, que era chorona? …. Andei a ser imitada por não sei quanto tempo por aqueles miúdos tolos da escola….uma vergonha mesmo.
2 – Tenho uma pequena diferença de idade da minha irmã do meio (20 meses) e não é que por ciúmes de vez em quando dava umas bofetadinhas (até coro só de dizer isto). Ela que me perdoe, mas quando lhe acontecia alguma coisa de mal ela ria-se e eu chorava…e esta, hein!
3 - Era muita curiosa e fazia muitas perguntas indiscretas que deixavam a minha mãe muito embaraçada, o que a levou bastante cedo a pôr-me ao corrente de situações das quais eu nada entendia.
4 – Num jardim público quando de visita a uns tios noutra localidade cortei um enorme ramo de flores para dar à minha tia e levei um valente raspanete de uma senhora que ia a passar, que nunca mais esqueci.
5 – Por vezes saía de minha casa sem pedir autorização para brincar na rua e a minha mãe via-se aflita para me encontrar, embora no reencontro me recompensasse com umas “suaves” palmadinhas….onde devem calcular.
6 – Num teste de Ciências, teria uns onze anos, uma colega pediu-me ajuda para uma pergunta. Escrevi a resposta num papelinho e atirei-o para junto da mesa dela. A Professora estava na porta da sala de aula com outra colega (viu tudo) e entretanto fechou a porta.
Virou-se para a classe e disse que ia bater a duas meninas. Fiquei toda corada e envergonhada e lá levei seis reguadas. A turma era mista, estão a imaginar…
7 – Cresci muito entre os 11 e 13 anos. Era magríssima e tinha muita vergonha de passar junto dos “simpáticos rapazitos”, quando me deslocava para a escola, porque me apelidavam de escadote, girafa, esparguete e como a minha maior amiga era o oposto de mim éramos apelidadas de a Bucha (a minha amiga) o eu a Estica (personagens de um filme antigo) estão a ver a cena, como agora se diz?
7 - Lembranças dolorosas de infância:
Mesmo com dor:
1 - Fui mordida duas vezes por 2 simpáticos cãezinhos das minhas vizinhas, teria uns cinco anos;
2 -Queda desastrosa numa calçada muito inclinada onde resolvi fazer uma corrida. Resultado: Levaram-me em braços a casa com o rosto todo esfolado (teria 6 ou 7 anos) e lá fui para o médico que abaixo refiro (era dentista, pediatra, otorrino, etc). Era o que valia à minha mãe.
3 – Idas ao Dentista numas férias grandes em que era torturada com aquelas brocas que faziam um enorme ruído. Saía de lá toda atordoada.
Outras dores:
4 – O meu pai foi atropelado e constou que teria falecido. A minha mãe já estava em Lisboa junto dele no Hospital e a casa de meus avós encheu-se de pessoas a chorar. Eu tinha apenas 6 anos e acordei com todo aquele reboliço. Graças a Deus ainda está vivo (84 anos), mas o acidente foi muito grave e o meu pai esteve bastante mal.
5 – Todos os velhinhos e velhinhas que faleciam e de quem eu muito gostava;
6 – Aqui não sei ainda, mas depois digam-me qual a penalização.
7 – A maior dor: fui arrancada das minhas raízes com doze anos e viemos quase de um dia para o outro morar para Lisboa (arredores).
Claro que isto significou deixar as minhas amigas da terra que eram como irmãs, ficar longe dos meus avós, adaptar-me a um outro ambiente que em nada tinha a ver com a minha aldeia natal.
Com o tempo tudo foi passando, mas pelo meio houve muita dor, muita tristeza. Graças a Deus tudo se foi recompondo.
Acho que escrevi muito. Agora ainda vou terminar umas tarefas domésticas (penso que dá para a minha penalização) e vou passar o testemunho à nossa amiga Felipa aqui:
http://cristo-sempre.blogspot.com/
Aguardo as vossas gargalhadas!!!
Beijinhos com a minha amizade e carinho.
Ailime
20.01.2011